Contas penduradas, aluguel atrasado, cartão de crédito estourado, conta bancária no vermelho. Se você se identifica com essa situação, saiba que não está sozinho. As dívidas em atraso têm tirado o sossego e as noites de sono de cada vez mais brasileiros.
A inadimplência segue batendo recordes no Brasil. Se em 2020 e 2021 esse aumento tinha relação direta com a pandemia, hoje ele é reflexo de um cenário econômico que combina inflação alta e juros elevados.
Segundo especialistas da CNC (Confederação Nacional do Comércio), instituição responsável pela Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), a quantidade de brasileiros com dívidas em atraso, que já havia atingido o maior nível da história no primeiro semestre de 2022, deve continuar subindo nos próximos meses, e pode atingir um pico em 2023.
Sabemos o quanto é difícil estar endividado. Insônia, queda na autoestima, irritação e perda de produtividade são apenas alguns dos impactos que o endividamento pode causar no nosso estado emocional. Além, é claro, de resultados práticos, como a inclusão do nome no cadastro negativo de entidades de proteção ao crédito, ações judiciais e restrição ao crédito.
Mas o que costuma levar as pessoas a se endividarem? Quem nunca atravessou uma fase de turbulência financeira que atire a primeira pedra. O orçamento começa a não fechar no fim do mês, deixamos de pagar uma conta aqui, fazemos um empréstimo ali, refinanciamos o carro ou a casa, recorremos ao crédito para suprir necessidades básicas e, quando nos damos conta, estamos presos em um ciclo vicioso difícil de sair.
Se você tem acumulado dívidas em atraso, quer se livrar dessa situação, mas já se complicou tanto com as pendências que nem sabe por onde começar, lembre-se de que com um bom plano de negociação é possível sim organizar o pagamento das dívidas e, pouco a pouco, pôr as contas em dia e retomar as rédeas do orçamento pessoal. O primeiro passo é reconhecer a condição de endividamento e olhar de frente para as dívidas. Então, partir para medidas práticas que possam, pouco a pouco, tirar você daquela situação.
“As negociações de dívidas em atraso trazem ao consumidor endividado a oportunidade de voltar a ter acesso ao crédito para usá-lo em situações de necessidade. Elas são uma maneira de reestabelecer o orçamento familiar, inserindo as famílias novamente ao mercado de consumo”, afirma Waldir de Santis, sócio-diretor da Crediativos.
Separamos aqui algumas dicas importantes para quem busca reverter a condição de inadimplência e reconquistar uma vida financeira saudável. Confira!
Entenda a origem do seu endividamento
O principal fator que leva as pessoas ao endividamento é o desemprego (que, por sinal, atingiu taxa recorde de 14,4% no primeiro trimestre de 2022, a maior desde 2012, segundo dados da Pnad – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios). Mas o acúmulo de dívidas também costuma estar associado a inúmeras causas paralelas, que podem ser combatidas com um pouco de esforço e disciplina. A falta de organização financeira é uma delas.
Portanto, procure diferenciar se o endividamento foi contraído em um cenário de crise econômica, em razão de um imprevisto pontual ou de um momento de transição, ou se ele é recorrente, fruto da falta de planejamento, de consumo impulsivo, do uso excessivo do cartão de crédito, da ausência de uma reserva financeira e assim por diante.
Encare de frente
Só quem está ou já esteve endividado sabe quanto as dívidas podem fazer um estrago não apenas no nosso orçamento, mas também na nossa saúde emocional. Além de serem um obstáculo para nossos sonhos e planos futuros, as dívidas nos roubam a tranquilidade para tomar decisões e fazer coisas simples do dia a dia. Para resolver pendências varridas para debaixo do tapete e, em muitos casos, ali mantidas por anos, é preciso estar disposto a fazer uma revisão de nossos próprios hábitos, reconhecer nossos deslizes e mergulhar em um processo profundo de autoconhecimento. Esse é um passo importante para avançarmos para as próximas etapas.
É comum que pessoas endividadas se sintam culpadas ou mesmo envergonhadas pela situação em que se encontram. Por isso, tendem a não querer olhar para o tamanho da encrenca e vão “empurrando com a barriga” até chegarem ao limite. Não deixe que isso aconteça com você! Pense que, quanto antes você tomar a decisão de fazer algo a respeito, mais rapidamente vai conseguir recuperar a saúde financeira.
Relacione todas as dívidas e conheça o valor exato desse montante
Depois de ter encarado sua situação financeira de forma honesta e abrangente, é hora de mapear esse cenário de forma precisa e minuciosa, para entender exatamente onde você está pisando. Trate cada dívida como parte de um todo, e não de modo isolado. Faça um levantamento de todas as contas, listando os valores, parcelas, datas de vencimento, taxas de juro e saldo devedor atualizado.
Defina um percentual máximo da sua renda para amortizar dívidas
O ideal é ter no máximo 20% da renda comprometida com o pagamento de dívidas. Se esse valor foi ultrapassado, então é hora de negociar prazos e parcelas e, principalmente, de parar de assumir novas dívidas.
Decida quais dívidas quitar primeiro
Na maioria das vezes os recursos disponíveis não são suficientes para solucionar tudo de uma vez. Será preciso fazer escolhas e entender o que priorizar, da forma mais racional possível. Para isso, analise os riscos relacionados a cada dívida, como perda de um patrimônio financiado, corte de serviço essencial etc.
Dívidas com o banco ou com o cartão de crédito nem sempre parecem as mais urgentes, mas em geral são as mais caras e por isso o ideal é não atrasá-las. Se não conseguir, renegocie ou transfira a dívida para uma instituição com juros menores.
Quando possível, renegocie
Ao negociar um acordo, é importante analisar as condições oferecidas e não ir aceitando a primeira proposta. Busque algo que seja capaz de cumprir para evitar novas pendências.
Busque soluções digitais
O avanço da tecnologia, especialmente a partir da pandemia, favoreceu muito os processos de regularização de dívidas pela internet, sem precisar sair de casa. As plataformas de negociação de dívidas têm evoluído muito nas condições que oferecem, permitindo ao devedor buscar virtualmente e de forma automatizada as condições ideais para a sua situação, com vantagens que vão desde agilidade para fechar o acordo até descontos e prazos alongados.
Essas plataformas contam com recursos que facilitam acordos de pagamento, funcionando como um ponto de encontro virtual entre devedores e credores, sem que haja necessidade de um contato direto. Como esses procedimentos requerem o compartilhamento de dados pessoais, é importante conferir sempre se você está em um ambiente seguro.
Organize o fluxo de caixa
A análise do fluxo de caixa é essencial para identificar oportunidades de reduzir despesas. Separe os gastos com parcelas e confira qual seu valor mensal. A partir disso, renegocie todos os seus débitos em parcelas que caibam no orçamento.
Negocie suas dívidas mais caras
Se você está pagando taxas de 5% a 10% ao mês, procure uma maneira de trocar a dívida. Ou seja, tomar um empréstimo que quite sua dívida atual e cobre juros menores, de preferência inferiores a 3% ao mês.
Considere o patrimônio como alternativa para sair do endividamento
Além de ser vendido para liquidar uma dívida, o patrimônio pode ser usado como garantia para obter linhas de crédito com juros mais baixos e parcelas compatíveis com o fluxo de caixa.
Forme uma reserva de emergência
Organize seu orçamento de modo que haja sobras de caixa mensais, mesmo enquanto ainda estiver quitando suas dívidas. A formação de uma reserva de liquidez poderá absorver imprevistos e evitar novo endividamento.
Colocando essas dicas em prática, você vai conseguir sair do aperto de vez! Agora leia mais sobre Saúde financeira e saúde mental: como equilibrar as duas, clicando aqui!