Ao lado de todas as facilidades e conveniências, a vida digital trouxe também algumas complicações e perrengues, como as fake news, por exemplo. Outro perrengue muito comum e muito danoso é o golpe do boleto falso, frequentemente só percebido quando já se tornou fato consumado. Nesse caso, o jeito é correr atrás para tentar reverter o prejuízo.
É possível tomar medidas para tentar recuperar o valor perdido? Sim, mas pode dar algum trabalho, como você poderá conferir na sequência da leitura. No artigo de hoje, trazemos algumas dicas para você saber identificar um boleto falso e como ele é criado. E também como se prevenir ou se defender caso seja vítima de um deles.
O que é um boleto falso
Os boletos bancários são uma forma amplamente utilizada de realizar pagamentos no Brasil, sendo comuns tanto em compras online quanto em serviços recorrentes, como contas de água, luz e internet. No entanto, essa popularidade também atrai a atenção de fraudadores, que criam boletos falsos para enganar as vítimas e desviar o pagamento para suas próprias contas.
Um boleto falso é um documento que, à primeira vista, parece ser um boleto bancário legítimo, mas que foi manipulado por golpistas para desviar o pagamento para uma conta bancária diferente da original. Esses boletos são geralmente muito bem-feitos, imitando de forma precisa o layout e os dados dos boletos verdadeiros, o que dificulta sua identificação. Os golpistas podem alterar a linha digitável, o código de barras e os dados do beneficiário, como o nome e o CNPJ.
Como identificar um boleto falso
Nem sempre é fácil identificar um boleto falso, mas alguns sinais podem ajudar. Um primeiro passo para se prevenir é conferir o emitente do boleto. Se você não o reconhece, desconfie.
Na sequência confira se a data de vencimento e o valor estão corretos e se correspondem a algo que você esperaria mesmo pagar.
Outras dicas importantes:
– Verifique a linha digitável
A linha digitável é aquela sequência numérica composta por vários blocos de números, localizada geralmente na parte superior do boleto. Essa linha pode ser comparada com os dados do beneficiário. Verifique se os primeiros números correspondem ao código do banco. Os três primeiros dígitos devem indicar o banco emissor. Por exemplo, o código “001” refere-se ao Banco do Brasil, “104” à Caixa Econômica Federal, e assim por diante. Caso os números não correspondam ao banco, desconfie.
– Compare os dados do beneficiário
Confira os dados do beneficiário, como o nome e o CNPJ do emissor. Compare essas informações com as de boletos anteriores ou com as informações disponíveis no site da empresa que poderia ter emitido o boleto. Se houver divergências, como nomes diferentes ou CNPJs que não coincidem, é porque algo está errado para o seu lado e é provável que se trate de um boleto falso.
– Cheque o código de barras
Use o aplicativo do seu banco para ler o código de barras do boleto. Se o app não conseguir ler e transcrever o código, tornando necessária a digitação de todos os campos, esse pode ser um sinal de que o boleto é falso.
Ao digitar, verifique se a numeração do código de barras corresponde ao banco emissor (os primeiros três dígitos devem corresponder ao código do banco).
Você pode usar o Débito Direto Autorizado (DDA) para conferir boletos registrados em seu CPF. Se tiver dúvidas, entre em contato com o banco emissor ou com a empresa que supostamente enviou o boleto para confirmar sua autenticidade.
– Desconfie de alterações não solicitadas
Se você recebeu um boleto diferente do habitual, com mudanças no valor, vencimento, ou qualquer outra informação, entre em contato com a empresa para verificar a autenticidade do documento. Golpistas frequentemente enviam boletos falsos alegando alterações de última hora, como descontos, mudanças de data ou dados atualizados do beneficiário.
– Evite pagar boletos gerados por links suspeitos
Evite realizar pagamentos de boletos gerados a partir de links recebidos por e-mail ou mensagens de texto, especialmente se não tiver solicitado. Prefira acessar diretamente o site oficial da empresa para gerar o boleto de pagamento. Isso reduz o risco de ser direcionado a uma página fraudulenta.
– Utilize ferramentas de verificação
Alguns bancos e aplicativos oferecem ferramentas de verificação de boletos, que ajudam a identificar fraudes. Essas ferramentas permitem a inserção da linha digitável para conferir se os dados estão corretos antes de realizar o pagamento.
O que fazer ao suspeitar de um boleto falso?
Se você suspeitar que um boleto seja falso, é importante seguir esses passos:
– Não efetue o pagamento: evite pagar até ter certeza da legitimidade do documento.
– Entre em contato com a empresa: ligue para o número oficial da empresa beneficiária para confirmar as informações do boleto.
– Notifique o banco: informe seu banco sobre a suspeita e peça orientação sobre como proceder.
– Registre um boletim de ocorrência: Se constatar que realmente caiu em um golpe, vá a uma delegacia e registre um B.O.
Como ser ressarcido
Assim que perceber que pagou um boleto falso, é crucial agir imediatamente. Quanto mais rápido você agir, maiores são as chances de recuperar o valor. O tempo é um fator decisivo nesse processo, então não espere para tomar as primeiras providências.
A vítima do golpe do boleto falso deve registrar um boletim de ocorrência – na delegacia de polícia mais próxima ou pela internet – com as informações constantes do documento fraudado, a comprovação do pagamento e possíveis e-mails e outras mensagens dos golpistas.
Antes disso ou na sequência, você deve informar o banco do ocorrido, assim como a empresa que supostamente deveria receber o valor. Não custa conferir se há alguma garantia ou seguro contratados diretamente com o banco ou com a empresa que receberia o dinheiro.
Em casos como esse, cabe ao banco ressarcir o cliente pelo prejuízo, com base na legislação em defesa do consumidor. Na prática, porém, dependendo do relacionamento com o correntista, o banco pode só concordar em ressarcir o prejuízo se o boleto tiver sido emitido por um canal de comunicação de seu próprio sistema. Ou seja, considerando, curiosamente, que a culpa foi da vítima: no caso, você.
Por fim, se o boleto falso parecia ser de uma empresa conhecida, procure entrar em contato com essa empresa para informá-la sobre a fraude. É possível que outras pessoas também tenham sido vítimas do mesmo golpe, e a empresa pode tomar medidas para alertar seus clientes e evitar novos incidentes.
Se o banco ou a instituição financeira não conseguir reverter a transação, pode ser necessário recorrer ao Procon, que é o órgão de defesa do consumidor, ou buscar ressarcimento por meio de ações judiciais. Consultar um advogado especializado em direito do consumidor pode ajudar a avaliar as opções disponíveis e a melhor forma de proceder.
O Procon pode intermediar a solução do problema ou orientar sobre os passos a seguir para a abertura de um processo judicial. Na justiça, o consumidor pode pleitear tanto o reembolso como uma indenização por danos morais, se aplicável.
Quais os meus direitos como consumidor?
O Código de Defesa do Consumidor (CDC) garante ao consumidor o direito a informação clara, precisa e adequada sobre produtos e serviços oferecidos no mercado. Isso inclui a emissão de boletos bancários. As empresas são obrigadas a fornecer todos os detalhes necessários para que o consumidor possa verificar a autenticidade de um boleto. Se você receber um boleto suspeito, tem o direito de entrar em contato com a empresa para confirmar a veracidade das informações.
Ainda de acordo com o CDC, a responsabilidade por danos causados ao consumidor pode recair sobre a empresa emissora do boleto. Ou seja, caso não adote medidas de segurança suficientes para evitar a emissão de boletos falsos em seu nome, a empresa pode ser considerada responsável por eventuais prejuízos. Isso inclui situações em que o consumidor é induzido a pagar um boleto fraudulento, especialmente se a empresa não ofereceu canais claros e seguros para a verificação da autenticidade do boleto.
Se você pagou um boleto falso, lembre-se de que buscar o reembolso do valor pago é um direito garantido por lei. Além do reembolso, se o pagamento de um boleto falso tiver causado transtornos significativos, como o bloqueio de um serviço essencial ou a negativação indevida do nome do consumidor, ele pode ter direito a uma reparação por danos morais.
Previna-se contra novos golpes
Depois de ser vítima de um golpe, é importante proteger seus dados pessoais e bancários. Troque senhas, monitore suas contas bancárias e fique atento a qualquer atividade suspeita. Em muitos casos, golpistas podem tentar usar as informações que obtiveram para aplicar outros golpes.
Confira algumas práticas preventivas para evitar cair em golpes futuros:
– Verifique os boletos: sempre verifique a linha digitável do boleto antes de realizar o pagamento. Compare os dados do beneficiário com os de pagamentos anteriores e desconfie de qualquer alteração.
– Evite links suspeitos: não pague boletos gerados a partir de links recebidos por e-mail ou mensagens, especialmente se você não tiver solicitado. Prefira acessar diretamente o site oficial da empresa para gerar boletos.
– Use aplicativos de pagamento seguros: muitos aplicativos de bancos oferecem a opção de verificação de boletos, que pode ajudar a identificar fraudes antes de realizar o pagamento.